terça-feira, 30 de julho de 2013



Rebelião

Relâmpago, fagulha e incêndio num fim de outono

por Mario Sergio Conti

Ninguém esperava que milhões de pessoas paralisassem centenas de cidades em poucos dias. Elas enfrentaram a polícia. Depredaram lojas e agências de banco. Queimaram ônibus, carros e vans de redes de tevê. Fizeram barricadas em rodovias e impediram a entrada em aeroportos. Abalaram um dos símbolos maiores da identidade nacional, a Seleção Brasileira, e tentaram intervir em partidas de futebol. Centenas foram presas e feridas. Seis morreram.
Um governador de estado, o do Rio, não conseguiu entrar em casa porque a rua onde mora foi ocupada durante dias a fio. Multidões bateram às portas de câmaras de vereadores, prefeituras, assembleias legislativas, palácios estaduais, ministérios e do próprio Congresso Nacional. Estiveram a poucos metros do coração do poder central, o Palácio do Planalto. Uma greve geral foi convocada.
A situação que se abriu é revolucionária. Nela, o inesperado é sempre a nota inicial. A Comuna de Paris, em 1871, foi uma surpresa para o próprio Marx. Ele estava exilado em Londres e, avaliando que a conjuntura era de calmaria na Europa, abandonara a militância política imediata e se dedicava a estudos de longo prazo. Em São Petersburgo, em 1905, uma rebelião desembocou na eleição do primeiro conselho de democracia direta – “soviete”, em russo. Foi eleito para presidi-lo um jovem desconhecido de 25 anos que estava fora dos partidos. Chamava-se Leon Trotsky. Pouco antes de a revolução estourar, em 1917, Lênin previra uma temporada de anestesia na Rússia.
Isso não significa que o Brasil esteja às vésperas de uma revolução, longe disso. Situação revolucionária não quer dizer tomada do poder. Muito menos mudança radical da sociedade. A expressão serve para descrever o período em que um povo dá mostras de que não quer mais viver como antes. E que o Estado não pode seguir governando como fazia até então. Isso está a acontecer no Brasil.
A França de 1871 e a Rússia do começo do século passado não têm nada a ver com o Brasil de hoje. Lá, os países disputavam guerras. Centenas de jovens eram destroçados diariamente à bala e baioneta. Milhões de pobres não tinham o que comer. O desemprego era imenso. Aqui, se está em paz. A miséria foi atenuada nos últimos anos. Há quase pleno emprego. Apesar disso, os acontecimentos de junho mostram que um mal-estar profundo perpassa o país inteiro. Houve protestos colossais inclusive em Macapá. Até o Faustão defendeu na Globo o bota-pra-quebrar contra o isto-que-está-aí.

aios iluminam o céu azul de vez em quando. Eles só têm consequência quando batem no chão e provocam fagulhas. O incêndio se propaga à medida que encontra combustível para manter a chama. Há dois anos, um jovem sem emprego do interior da Tunísia, desesperado porque a polícia o proibiu de vender frutas na rua, comprou um latão de gasolina e ateou fogo em si mesmo. Mohamed Bouazizi tinha 26 anos. O fogo que o matou acendeu a Primavera Árabe.

Em questão de meses, toda uma região do globo, de Rabat a Damasco, estava em chamas. As ditaduras da Tunísia e do Egito foram derrubadas em meio a labaredas de cólera. Na Líbia, Kadafi foi chutado pela rua como um vira-lata que tivesse raiva. Começou a guerra civil na Síria, com seu cortejo de 100 mil mortos e exílio em massa. Num processo desigual e combinado, os fatos se desenrolaram de maneira distinta numa dezena de países, cada qual com ritmos próprios.
O Brasil não é a Tunísia. Nem a América Latina é igual ao mundo árabe, ainda que uma manifestação em Assunção, no Paraguai, tenha se inspirado diretamente nas brasileiras e protestos fermentem em outros países. As instituições por aqui são mais arrumadas do que as de acolá. Há democracia, livre expressão, judiciários que bem ou mal funcionam. As ditaduras e monarquias petrificadas de lá se apoiavam em clientelas pagas e títeres. A censura e a tortura política eram a norma. Monstruosos aparatos militares calavam quem desse um pio contra os poderosos.

 Brasil é mais parecido com a Europa e os Estados Unidos. Mais precisamente: setores das metrópoles brasileiras são semelhantes aos estamentos que a crise econômica vitimou nos países centrais. Ou seja, estudantes que precisam começar a trabalhar e não encontram nada, os desempregados e os ameaçados de perder o serviço, os funcionários de estados que mínguam a cada ano, à força de cortes de orçamento que sucateiam escolas, hospitais e o transporte coletivo.

Também na Europa e nos Estados Unidos houve revoltas. Mas elas não abriram situações revolucionárias. Salvo na Islândia, onde greves gerais em sequência e manifestações que arrebataram a povo inteiro barraram o Diktat recessivo da grande finança internacional. E descontada a Grécia, onde os protestos foram ainda mais fortes que os brasileiros. Em Atenas, uma coalização instável conseguiu ser eleita e, com recursos portentosos da União Europeia, a duras penas vem tentando governar.
A crise econômica fez surgir os indignados na Espanha. Pela heterogeneidade, o movimento deles tem pontos de contato com os protestos brasileiros. Ele é integrado por estudantes, jovens que pedem emprego, serviços públicos decentes e o fim da corrupção. São parecidos com o Occupy Wall Street. O agrupamento americano, que se espalhou por dúzias de cidades, surgiu numa manifestação convocada por uma revista canadense, que por sua vez se inspirou na ocupação da praça Tahrir, no Cairo.
O mundo globalizado é uno. Um camelô que se imola nos cafundós da Tunísia acende uma mecha na praça Tahrir. A derrubada da ditadura egípcia inspira canadenses a conclamarem a ocupação em Nova York. Mas cada país tem seus usos e costumes. E o Brasil é o Brasil.

 relâmpago brilhou no céu da tarde fria de uma quinta-feira, 6 de junho. O raio caiu na escadaria do Theatro Municipal, no centro de São Paulo. Havia ali o punhado de gatos pingados do Movimento Passe Livre. Eles têm 20 e poucos anos, mas desfraldaram faixas com uma reivindicação popular velhíssima, a redução do preço das passagens. Ele fora aumentado em 20 centavos no começo do mês.

Não era a primeira manifestação. Meses antes, em Florianópolis e Porto Alegre, eles haviam organizado atos parecidos. Os poderes constituídos não os levaram em consideração. Repetiram D. Pedro II. Em 1879, o imperador não ligou para a Revolta do Vintém, que pleiteava o corte da tarifa de 20 réis. Ecoaram Juscelino Kubitschek, que nos anos 50 não deu bola para os cariocas que eram contra o aumento das passagens. Nos dois casos houve sururu, tiros e bondes incendiados.
O Passe Livre conseguiu juntar 2 mil pessoas. Marcou outra passeata para o dia seguinte. Depois outra. Uma terceira. Elas atraíram mais gente e ficaram parrudas. O governador do estado e o prefeito paulistano estavam em Paris. Quase de joelhos, solicitavam que a cidade fosse sede de mais um desses megaeventos que não dizem nada a quem fica entalado horas num ônibus, mas rendem excelentes negócios para os espertalhões de sempre.
Eles dividiram as tarefas para dar as respostas de praxe. O prefeito, do PT, apareceu com um maço de planilhas. Explicou racionalmente porque não reduziria de jeito nenhum o preço das passagens. O governador tucano mandou baixar o pau nos irrealistas e insolentes. Afinal, o passe livre só deve valer para um punhado de maganos: vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, ministros, presidentes disto e daquilo. Apenas eles podem ter transporte gratuito VIP: carrões pretos reluzentes e chofer de paletó no banco da frente. Nada mais justo, já que são autoridades, Vossas Excelências.
A Central Única dos Trabalhadores e a União Nacional dos Estudantes mantiveram-se em silêncio. Todas as organizações empresariais, todas as igrejas, todos os parlamentares ficaram mudos. A imprensa hostilizou os “vândalos” e clamou pelas forças da ordem. O Brasil oficial se apartou da realidade.
A Polícia Militar saiu a campo. Ela não foi treinada para manter uma passeata nos limites. É adestrada para caçar bandidos e moradores de quebradas barra-pesada, ao abrigo de registros impertinentes. A polícia sentou bala de borracha em cima de quem viu pela frente.
As balas saíram pela culatra. Os protestos se multiplicaram em progressão geométrica e se irradiaram pelo país todo. O pêndulo se moveu de São Paulo para o Rio, onde 300 mil pessoas se juntaram no centro da cidade. A Assembleia Legislativa fluminense, um dos mafuás mais notórios da corrupção oficial, foi invadida. O que era um raio em céu claro virou fogaréu.

etistas e tucanos, novamente de forma concatenada, recuaram. Mandaram a polícia se moderar e abaixaram o preço das passagens. Foi uma vitória admirável, na contramão do que costuma ocorrer no Brasil. O movimento estudantil de 1968 foi derrotado pelos militares e iniciou-se a fase mais repressiva da ditadura.

A campanha pelas eleições diretas dos anos 80 fracassou. A agitação reformista redundou na escolha de um presidente, na frase feliz do sociólogo Francisco de Oliveira, “mais conservador que Nossa Senhora de Guadalupe”. Nem Tancredo Neves acabamos tendo. Com a sua morte, tomou posse o jaquetão que coonestara a tortura.
A pressão popular derrubou Collor. Mas ele não passou um dia sequer na cadeia e não se tocou nos seus bens. Foi morar em Miami, passeou pelo Taiti e se elegeu senador governista. Impávidas, as negociatas prosperaram: compra de votos de parlamentares, concorrências viciadas, nepotismo, caixa dois eleitoral, máfias de ônibus, o mensalão petista e o tucano.
Talvez a vitória tenha vindo rápido não só devido à quantidade das multidões, mas à natureza dos protestos. Eles foram carnavalescos como os da Diretas Já e do Fora Collor, mas bem mais aguerridos. Dessa vez não houve palanques, discursos, lero-lero. A violência esteve sempre presente. Além da pancadaria policial, ocorreram revides, depredações, saques, quebra-quebra. Havia perigo real em participar delas. E elas atraíram cada vez mais pessoas iradas em um sem-número de cidades.
A redução do preço das passagens gerou algo mais espantoso ainda: os atos públicos prosseguiram e cresceram. Mantiveram a batida virulenta e chegaram a rincões com depósitos enormes de combustível, os arrabaldes das metrópoles. É neles que vive a gente mais sofrida, e também os beneficiários do Bolsa Família e do salário mínimo robustecido na era Lula. Foi a partir de bairros pobres que se organizou a interrupção de rodovias. Eles queriam passarelas, segurança na travessia das estradas e reintegrações de posse. O aumento dos pedágios foi cancelado.
Quem foi à grande passeata de comemoração na avenida Paulista viu que a presença do Partido dos Trabalhadores fez com que o ambiente ficasse carregado. O repúdio à participação dos petistas veio de dois lados. Uma parte se irritou com o oportunismo do partido, cujos líderes um dia antes defendiam o aumento das passagens. Outra parte, minoritária mas organizada, agrediu os militantes. Mais por eles apoiarem o governo e serem de esquerda do que por integrarem um partido.
De roldão, outros partidos da esquerda, que estiveram com o Movimento Passe Livre desde o começo – o PSTU, o PSOL e o PCO –, foram forçados a arriar suas bandeiras. Parecia haver, em gestação, milícias de direita. E a direita organizada nunca tomou parte de agitações reivindicatórias. DEM, PSDB e PMDB têm horror a elas. O seu mundo é o dos gabinetes, dos conchavos e dos comícios bem enquadrados. Que tenham descido à avenida Paulista é mais um sintoma da turbulência dos idos de junho.

s manifestações perderam a reivindicação unificadora do congelamento das tarifas. Agora, vale tudo. Uns buscam a satisfação de dificuldades locais com ônibus, hospitais e escolas. Outros denunciam os gastos extravagantes na construção dos elefantes brancos para a Copa do Mundo. Defendeu-se a derrota do projeto que retirava poderes do Ministério Público, o que acabou ocorrendo. Há aqueles que se insurgem contra a discriminação homofóbica. Muitos pedem – metaforicamente – a cabeça do presidente do Senado. Poucos, a da presidente da República.

Dilma Rousseff voou às carreiras de Brasília a São Paulo para se encontrar com o seu antecessor e, sinal dos tempos, o marqueteiro de ambos. Voltou à capital e, abatida, fez dois pronunciamentos seguidos na televisão. Reuniu-se com organizadores do Movimento Passe Livre, que uma semana antes levavam cacetadas da PM no lombo. Eles a consideraram despreparada para discutir transporte coletivo. Algumas das ideias da presidente são de viabilidade mais remota que o passe livre para todos.
Fica difícil ir a algum lugar se não há placas nem quem aponte um rumo. Há muita lança e pouca ponta na rua. Existem mil ideias no ar e nenhuma prevaleceu. A depender dos desdobramentos, algumas delas vingarão. Não necessariamente as mais assentadas. As ideias do Iluminismo estavam à margem do pensamento predominante na Europa do século XVIII. Rousseau e Voltaire eram pequenos diante da força da Igreja Católica. Em 1789, porém, suas ideias fizeram sentido para artesãos, camponeses, comerciantes e trabalhadores que se puseram em movimento. Figuras obscuras emergiram e foram levadas ao centro dos acontecimentos: Danton, Marat, Robespierre.
A social-democracia russa do começo do século anterior era composta de grupelhos e extremistas exilados. Eles dedicavam boa parte da sua energia a querelas internas. Poucos sabiam que existiam. Veio 1917 e os desconhecidos criaram o partido bolchevique, que serviu de instrumento para a tomada do Palácio de Inverno. A revolução do século passado que teve maior participação popular não foi a russa. Foi a iraniana, de 1979. Quando ela começou, o seu líder sequer estava em Teerã. Vivia no exílio há quinze anos e morava em Neauphle-le-Château, perto de Paris. Era o aiatolá Khomeini.
Repita-se: o Brasil não é a Rússia nem o Irã. Mas desencadeou-se um tempo de agitação prenhe de riqueza. Em semanas, o Brasil realizou um aprendizado coletivo equivalente ao de décadas de baixa voltagem. Haverá ciclos de desânimo e exaltação. Clivagens, diferenciações, celeuma e choques. Avanços, recuos, rodeios e zigue-zagues. O sistema político resistirá a mudanças materiais. Ele é integrado por gatos de sete vidas, capazes de cair de pé depois de piruetas esdrúxulas. Além do mais, rua é uma coisa e urna, outra. A hora é de participar: debater, criar e fazer escolhas. Muita coisa parece possível. Menos uma. Que o Brasil volte à rotina de antes do outono em que o raio bateu em gasolina.

Revista Piauí 82 -  Jul  2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

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O país do autoengano

Para psicanalista, recentes erupções de violência no Rio de Janeiro mostram que, sob a fachada do ufanismo desenvolvimentista, o Brasil esconde as velhas mazelas de sua modernização imperfeita

06 de abril de 2013 | 16h 30

Ivan Marsiglia
O conceito de "retorno do reprimido", descrito por Sigmund Freud pela primeira vez em 1895, é um mecanismo de defesa segundo o qual os conteúdos reprimidos, expulsos da consciência de uma pessoa, tendem a reaparecer constantemente. Três tragédias ocorridas sucessivamente no Rio de Janeiro nos últimos dias parecem sintomas de algum distúrbio oculto. Na manicure que asfixiou sem dó um menino de 6 anos com quem convivia, no estupro brutal de uma turista americana que pegou uma van em Copacabana e na agressão incompreensível que teria provocado a queda de um ônibus de cima de um viaduto expressam-se os sintomas de um antigo mal-estar de nossa civilização: a violência.


Marcos de Paula/Estadão
Universitário que agrediu o motorista tinha antecedentes
Nascido em São Paulo e radicado no Rio, o filósofo e psicanalista André Martins Vilar de Carvalho vê nesses acontecimentos a ponta do iceberg do autoengano nacional. "A propaganda enganosa da pacificação do Rio é a mesma do Engenhão construído há só cinco anos, que corre o risco de cair na cabeça da multidão", compara. "O Brasil vive uma espécie de capitalismo desenvolvimentista selvagem, que no fundo não quer gastar dinheiro com o social."
Doutor em filosofia pela Universidade de Nice e em teoria psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor associado, Martins diz ter a sensação de que tudo é feito hoje no País apenas para montar uma fachada que esconde nossos problemas mais profundos. Isso é perigoso e "favorece junto a pessoas com menos estrutura psíquica a ideia de que esta é uma terra de ninguém, onde tudo pode ser feito, inclusive crimes hediondos". O professor sustenta que as psicopatias, embora individuais e independentes de formação ou classe social, relacionam-se inevitavelmente ao descaso persistente com a primeira infância em nosso país.
Na entrevista a seguir, o autor de Pulsão de Morte? - Por uma Clínica Psicanalítica da Potência (Editora UFRJ, 2010) e O mais Potente dos Afetos: Spinoza e Nietzsche (Martins Fontes, 2009) vê na violência que emerge no cotidiano nacional os sinais da modernização imperfeita do País - em especial a marca persistente da escravidão, que "naturalizou" o fosso social brasileiro e a cultura do privilégio e do interesse mesquinho, que se manifestam tanto na corrupção política quanto nos instintos particularmente animais de certos empresários.
O estupro de uma turista dentro de uma van e o assassinato de um menino de 6 anos pela manicure que frequentava sua casa parecem ter feito o Rio despertar do sonho pacificador das UPPs para uma espécie de ‘retorno do reprimido’ da violência. O que houve?
Vejo as UPPs não como uma política ideal, mas possível, que age de maneira razoavelmente eficaz contra o crime organizado e o tráfico de drogas. Acontece que a violência que emerge agora não é fruto desse contexto. No caso da van, foram uma série de assaltos e estupros cometidos por três indivíduos e a manicure, uma mulher que cometeu o crime sozinha. O que vale colocar em questão aqui é esse "sonho pacificador", é a política local transformar uma iniciativa bem-sucedida em uma grande propaganda de um Rio de Janeiro pacificado. Isso é que é falso. Faço uma analogia, guardadas as devidas proporções, com o Engenhão interditado. Às vésperas da Copa do Mundo e da Olimpíada, a coisa é apresentada como se o Rio não tivesse mais problemas, virou uma cidade organizada, valorizada... Aí um estádio que foi construído cinco anos atrás corre o risco de desabar na cabeça da multidão. Descobre-se que a construção foi malfeita, obviamente por algum tipo de superfaturamento - e digo isso sem nenhum cuidado porque acho que é preciso dizer o óbvio. É a mesma propaganda enganosa que assistimos sobre a violência.
O colunista carioca Artur Xexéo escreveu, sobre os últimos acontecimentos, que ‘quando a cidade se olhar no espelho e vir o que ela realmente é por debaixo das muitas camadas de maquiagem e aplicações de botox, talvez descubra como se tornar maravilhosa de verdade’. O Rio e o Brasil padecem de certo distúrbio de autoimagem?
Concordo, inclusive em relação ao Brasil, que vive uma espécie de capitalismo desenvolvimentista selvagem, que no fundo não quer gastar dinheiro com o social, interessando-se pelo lucro a qualquer custo. A violência que escapa nesses dois exemplos, dos rapazes da van e da assassina do menino, é proveniente de indivíduos que refletem um descaso social como um todo. Para usar um termo que tem origem na filosofia política do século 17, o Brasil pode até ter um contrato social, mas ele está muito corrompido. E o que não temos é um pacto social, não existe um discurso de construção de fato de um país para todos. O que existe e, mais triste ainda, é aceito, são interesses individuais ou de pequenos grupos mesquinhos, mas não uma disposição de pensar o coletivo. A ideia do "cada um puxa a sardinha para seu lado" está legitimada socialmente no Brasil.
Então as oportunidades representadas pela organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas estão sendo jogadas fora?
Exatamente. Poderíamos estar aproveitando esses eventos para, dentro de um capitalismo minimamente responsável, utilizá-los para captar recursos para melhorias sociais. Todo mundo sabe disso, mas ninguém faz e ninguém cobra. Há um sentimento geral de que tudo é feito no Brasil hoje apenas para montar uma fachada. É algo muito desanimador. E que, no meu entender, favorece junto a pessoas que têm menos estrutura psíquica a ideia de que o Brasil é terra de ninguém, onde tudo pode ser feito, inclusive crimes hediondos.
Na mesma semana, a queda do ônibus de um viaduto durante uma briga banal entre o motorista e um passageiro mostrou até onde os impulsos agressivos do cotidiano podem levar. O que o fato de ambas as tragédias terem ocorrido no transporte público sinaliza?
Esse mesmo descaso com a coletividade. Não é por acaso que o transporte público tanto no Rio como em São Paulo, onde nasci, é tão ruim. E, a partir de um certo nível social ou de idade, ninguém mais quer andar de ônibus, por exemplo, ao contrário do que acontece na Europa ou nos EUA. O universitário que agrediu o motorista já tinha vários antecedentes de violência física. Aquele ônibus já registrava 40 multas, quase a metade por excesso de velocidade. Os motoristas não são fiscalizados e devem cumprir metas de número de viagens diárias. Como motoristas despreparados e sem formação continuam dirigindo? E a responsabilidade dessa companhia de ônibus? Por que não se interessa pela pressão sofrida por seus motoristas, mas ao contrário a exerce e a agrava? No caso dos três rapazes na van, também: se eles já haviam cometido diversos assaltos e estupros, com denúncias registradas inclusive em delegacias da mulher, por que nada foi feito? O mesmo pode ser dito quanto às diversas irregularidades absurdas vigentes no incêndio da boate em Santa Maria no Rio Grande do Sul, quando gestão privada e poder público se preocupavam exclusivamente com o lucro que o negócio gerava. É um problema não só político, mas jurídico. A Justiça brasileira tem que renovar sua forma de funcionar. E Brasília dá um péssimo exemplo com a corrupção, não só do mensalão, que pelo menos foi julgada, mas no sentido amplo da palavra - por sua falta de zelo com a res publica, a coisa pública.
De que maneira as ferramentas da psicanálise ajudam a compreender a violência?
É uma psicopatia grave a dessa moça que sequestrou e assassinou um menino com quem convivia havia três anos. O que se percebe é uma falta de identificação com o outro. Essas pessoas, seja a manicure, sejam os rapazes da van, manifestam uma perversidade e indiferença para com o outro. O processo de identificação com o outro se dá ao longo da vida, mas fundamentalmente na infância. Quando a criança lida com cuidadores hostis a ela, pode separar no processo identificatório - que está na origem da capacidade de se sensibilizar com o outro - aqueles com quem se sensibiliza e outros com por quem não sente nada. A pessoa que desenvolve essa psicopatia pode até nutrir sentimentos em relação à mãe, um amigo ou parente, mas não se sensibilizar, por exemplo, por uma criança de 6 anos que conviveu com ela, como aconteceu no crime da manicure. Ou pelas várias mulheres que esses homens estupraram, com uma violência capaz de quebrar ossos. Isso significa que filhos de classes mais pobres vão estar necessariamente mais inclinados a esse risco do que os ricos que estudaram em bons colégios? Não. Está aí o caso Suzane Richthofen para mostrar. Ou o próprio agressor do motorista do ônibus, que tinha nível universitário. Mas é preciso reconhecer coletivamente a importância desse cuidado na primeira infância - algo que o País não tem feito. Um exemplo é a falta de creches boas e em número suficiente. Aqui, de novo, não basta "entregar" fisicamente tais obras, mas se preocupar com a qualidade do que será vivenciado lá dentro. O mesmo acontece com a educação pré-escolar e no ensino fundamental. É algo gritante e urgente.
Dois dos crimes que o sr. cita tiveram um componente sexual - evidente no caso do estupro, mas presente também na acusação, feita pela manicure, de que estaria sendo assediada pelo pai do menino. Ambos não parecem ter sido cometidos só pelo benefício financeiro. Por que foram então?
Primeiro, não vejo que esses crimes possam ser atribuídos a aquelas pulsões agressivas do ser humano que Freud chamou de pulsão de morte ou destrutiva, ou a uma pulsão sexual vista como fundamentalmente bestial. Três rapazes que sentem mais prazer em violentar mulheres para poder ter uma relação sexual paradoxalmente não estão encontrando o gozo no sexo em si, mas na violência. Uma pessoa minimamente saudável, numa situação dessas, perderia o interesse, acharia deprimente. Muito mais do que expressar pulsões naturais ou bestiais do ser humano, eles estão se excitando sexualmente por uma violência hedionda e atroz contra outra pessoa. Eu vejo como parte dessa patologia comum da não identificação, que gera uma raiva difusa e uma destrutividade por essa vítima que eles não conhecem, como no caso da van, ou que conhecem muito bem, como no caso da manicure. Repito: a não identificação é construída em relações afetivamente precárias da primeira infância, não é "natural" ou instintiva.
Seu trabalho discute a forma como o corpo é manipulado na atual sociedade de consumo. Como a violência se insere nisso?
É outro aspecto, mas que se liga a esse que acabamos de discutir. A propagação, seja por interesses de mercado ou financeiros, de um ideal de corpo perfeito, de felicidade financeira perfeita, de relações sexuais performáticas, cria uma pressão psicológica social que suscita nas pessoas que se percebem distantes desses ideais um mal-estar, que pode se expressar em ressentimento. Que, em casos graves, pode se expressar em violência, destruição em relação a essa sociedade em que elas não se encaixam.
Então, a mistura do déficit social brasileiro com a expansão das possibilidades de consumo tem um potencial explosivo.
Sim. E aí podemos voltar àquele ponto inicial do sonho pacificador não só no Rio de Janeiro, mas do momento econômico do Brasil. Do que a gente está se vangloriando tanto? De que as classes C, D e E possam consumir? Isso é muito bom em vários aspectos. Agora, a possibilidade de consumir vir à frente da sociedade ter um pacto coletivo, sentir-se coletivamente envolvida numa melhor distribuição de renda, com melhorias na saúde, na educação e na moradia, é uma visão deturpada do coletivo. E a violência é uma face disso.
Há diversas explicações para o caráter violento da sociedade brasileira, desde as que culpam o trauma da colonização, as que apontam nossa prolongada escravidão, até o precário acerto de contas com violações cometidas durante a ditadura militar. Qual dos fatores concorre mais, em sua opinião?
Todos concorrem, mas o segundo, no meu entender, é sem dúvida o predominante: a nossa história de escravidão. Porque nos outros dois outros fatores podemos até encontrar aspectos positivos. No caso da colonização, apesar de toda a violência, tivemos a miscigenação, a mistura de raças, que nos trouxe qualidades distintivas. Mesmo em relação à ditadura, com a sua injustiça escandalosa, há o elogiável sentimento brasileiro de não cultivar o ódio ou a vingança. Já a herança escravocrata é particularmente perversa: ela cria um sentimento de desigualdade social aceito de maneira não questionada no Brasil. E também uma perversidade na relação de poder, a ideia de que inevitavelmente vai existir uma elite, que esse fosso de distribuição de renda "faz parte". É um sentimento muito ruim, muito prejudicial para o pacto coletivo de que precisamos.
O componente sexual dessas agressões pode também estar relacionado a essa herança escravocrata?
Sem dúvida. Na escravidão, como se sabe, as negras eram também escravas sexuais. O que difundiu uma percepção de que é legítimo submeter sexualmente o outro à força, de que o sexo não é nem precisa ser algo bom e consensual entre parceiros, um prazer ou uma alegria compartilhados. Isso é cultural, não um comportamento advindo de alguma natureza bestial do ser humano. Nem tem a ver com o sadomasoquismo, que é um jogo compartilhado. Mas com o desprezo pelo outro e o prazer pela violência.
Como o Brasil pode lidar melhor com esse conteúdo violento que parece tentar negar, seja nesse ufanismo pré-Copa, seja sob a eterna fantasia do povo alegre e festeiro?
A tese que defendo é que é inútil para o Brasil tomar a Europa como um modelo civilizatório. A civilização, no sentido europeu do termo, conseguiu combater uma violência primária, direta e sem mediação, ao preço de desenvolver uma violência secundária, que se dá em nome da civilização, de forma institucionalizada - e cujo maior exemplo são as guerras. Há menos violência nas ruas, mas mais violência contida que estoura no momento de uma guerra. No Brasil, a gente manteve uma violência primária que vem junto com o nosso tão propalado caráter cordial.
Que não é necessariamente positivo, como alguns interpretam.
É isso. A cordialidade, como bem definiu Sérgio Buarque de Holanda, vem da palavra "coração": é uma não mediação social. Algo assim: "Olha, vou ser muito gentil com você, se você for comigo. Mas se você não for, vou ser muito violento". É o contrário do que ocorre na Europa, onde predomina a polidez: mesmo pessoas muito zangadas e com raiva das outras, mantêm uma delicadeza dissimulada no trato. Enquanto a cordialidade aproxima, para o bem e para o mal, a polidez afasta, para o bem e para o mal. Penso que essa reflexão pode orientar o Brasil no sentido um projeto de coletividade: não vale a pena a gente aspirar a um processo civilizatório tal como o da Europa, pois muito dificilmente a gente vai aceitar essa imposição da lei, no sentido psicanalítico, pelo preço que isso acarreta. Então, insistir nisso é insistir num provincianismo brasileiro de pensamento que considera que o modelo dos outros é bom em todos os aspectos e o nosso ruim em todos os aspectos. Porém, para que serve observar esses modelos? Para tentarmos entender que um certo respeito às instituições, um pouco de polidez, e ter um pacto social de projeto de coletividade é preciso - mas isso pode ser feito a nossa maneira. Mantendo o aspecto cordial do povo, que aproxima as pessoas, mas aprendendo o valor do respeito às instituições, jurídicas, políticas e de organização urbana. Tentar importar a polidez europeia nunca vai dar certo e vira uma desculpa para não se fazer nada. E acaba nos levando a simplesmente enaltecer a cordialidade, sem perceber que, sem o respeito às instituições e um projeto de coletividade, junto com ela vem a violência.
 
* ANDRÉ MARTINS É FILÓSOFO, MEMBRO DO CÍRCULO PSICANALÍTICO DO RIO DE JANEIRO E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE PULSÃO DE MORTE? (EDITORA UFRJ, 2010) 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Texto extraído da revista CARTA CAPITAL

Vai chegar o dia em que a sociedade humana será capaz (ou obrigada a ser capaz) de enfrentar sua própria ganância com um remédio mais amargo, porém também mais eficaz, que é o único lenitivo para a crise sistêmica que se agigantou e tomou conta dos mercados ao redor do mundo; tal remédio chama-se distribuição de riquezas. Ou isto, ou o fim para todos. Para uns mais rápido e menos indolor, para outros demorado e sufocante, com todas as consequências apocalípticas, que um apocalipse social deverá ter; imagino, pois até agora, evento de tal magnitude, não temos lembrança recente para contar. O texto a seguir, da revista CARTA CAPITAL, enumera bem o cenário inicial de uma crise que se delineou  há poucos anos, mas vem  crescendo e dominando o cenário econômico mundial, arrastando e devastando países que até então, não se desconfiava que estivessem em situação tão dramática, como Itália e  Espanha. . . Boa leitura

Em toda parte estamos assistindo a uma epidemia de comportamentos criminosos e corruptos nos vértices do capitalismo. Os escândalos bancários não representam exceções nem erros, são fruto de fraudes sistêmicas, de uma avidez e arrogância sempre mais difundidas.” A autor dessa declaração, poucas semanas atrás, não é um líder bolivariano ou um jovem contestador do movimento Occupy Wall Street. Trata-se do renomado professor americano Jeffrey Sachs, economista que outrora flertou com o neoliberalismo, consultor do BM, FMI e ONU, entre outros atributos. Por sorte, Sachs não está só na batalha de ideias que ocorre, finalmente, contra o modelo econômico dominante: numerosas vozes do mundo acadêmico e da intelligentzia internacional, protestos dos jovens, alguns governos do Hemisfério Sul e, mais recentemente, parte da Europa, fazem parte da minoritária tropa. Já é alguma coisa, mas é dramaticamente pouco para domar a fera do capitalismo selvagem. Resulta particularmente perigoso é que, paralelamente, foi desencadeado um ataque sem precedentes à evolução democrática do chamado Ocidente. Nestas cruciais semanas de agosto, acho importante conferir uma leitura política, precisa e sem nuances, aos acontecimentos econômico-financeiros europeus, de sorte a aumentar a atenção sobre os riscos deste momento, inclusive nas nossas latitudes. O epicentro da guerra em curso * que não utiliza armas de destruição física, mas visa igualmente a férrea submissão de homens a outros homens * encontra-se hoje na Europa, com ataques especulativos furiosos contra os países mais frágeis do Euro. O objetivo estratégico, evidentemente, não é a falência deste ou daquele país, mas o fracasso ruinoso da experiência da moeda única e do processo de integração europeia. Uma vez superado o momento agudo da crise bancária em 2008, graças ao socorro providencial dos governos centrais, o sistema financeiro neoliberal conseguiu evitar qualquer satisfação à pressão da Administração Obama para o estabelecimento de novas regras e controles. Diante da aliança lobista entre Wall Street, a City londrina, Fundos Hedge e bancos de investimento americanos que administram, entre outros, os imensos tesouros dos paraísos fiscais, até mesmo o mais poderoso governo do planeta teve de baixar a crista. Ainda assim, foi dado o sinal de que a política quer enfrentar o problema. Juntamente com um novo clima geral, os donos dos mercados (vale lembrar: poucas dezenas de grupos de poder multinacional) perceberam recentemente outros sinais “subversivos”, como a vitória socialista na França e a onda de críticas teórico-ideológicas, inimaginável na fase precedente do pensamento único. Qual ocasião melhor que a derrubada do Euro, para reverter a própria momentânea fraqueza em um sucesso histórico? A inadequada arquitetura do sistema político e financeiro da Europa tem se manifestado de forma patente, com lutas e contradições internas que podem provocar paralisia fatal. Resulta claro que a sobrevivência do Euro se liga de forma
indissolúvel à aceleração da união política federal, fortalecimento que representaria ameaça gravíssima para os senhores das finanças. Por outro lado, se a zona da moeda europeia precipitar-se em uma depressão ainda mais aguda * comprometendo a fraca recuperação americana *os donos dos mercados alcançariam o primeiro objetivo de curto prazo: a derrota de Obama pelo reacionário integralista Romney, aliado político por definição. Uma vez eliminado o inimigo principal, seria mais fácil o ataque final à moeda antagônica e, com essa, a definitiva humilhação do quanto resta do modelo social europeu. Enormes lucros especulativos, dizem os especialistas, escondem-se por trás da constante conspiração de Wall Street & cia. contra o Euro. A possível explosão da União Europeia e a volta às antigas moedas nacionais, ademais, abriria pradarias a novas incursões bárbaras, com compras de bens, territórios e almas do Velho Continente a preços de saldo. Fantapolítica, como dizem os italianos? A realidade dos fatos nos diz que a bandidagem do capitalismo contemporâneo supera as piores fantasias.
A integração europeia, com todos os limites, representa um exemplo decisivo para similares processos como o Mercosul, uma experiência democrática e um modelo de pacificação acompanhados por crescimento econômico e políticas sociais sem paralelo. A desgraçada hipótese de sua derrota pode representar uma involução da civilização ocidental com consequências inimagináveis no mundo inteiro. A manutenção e possível evolução virtuosa de tal experiência enfrenta inimigos mortais e, hoje, necessita da aliança vitoriosa entre progressistas e federalistas europeus. Seria importante que os aliados destes, se existem, se manifestassem já.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

DESMESURAS PETISTAS

Se não contivermos a farra do Partido dos Trabalhadores eles poderão permanecer muito tempo ainda no governo. Me lembro de um comentário do "barbudo vermelho", quando da eleição de Fernando Henrique Cardoso: "Eles ficarão em média trinta anos no poder". Isso ficou na minha cabeça e na época achei que faria sentido, pois FHC era politicamete competente para tal. Era sujeito intelectualmente capacitado para empreender projeto de tal monta, pensei. Pelo que historicamente sabemos, não só ele durou pouco, como os tucanos não conseguiram alçar voos mais longos pelo território nacional. Já o PT, talvez acreditando na profecia de "Lulomé", não deixou por menos e tratou de desencadear campanha efetiva, com intuito de chegar ao poder e ao planalto, assim, voando mais alto que qualquer tucano fora capaz até então; para isto, se aliou como PL e outras alianças menores, chegando aonde chegou e assim permanece, ampliando alianças com os coronéis mais malhados da história do Brasil, fazendo com que sua base aliada e seus tentáculos não tenham mais vergonha nem ética e nem dimensão de sua própria desmesura. Perderam sem dúvida o rumo de seu discurso. Agora sim, sabemos e temos certeza que palavras, são apenas palavras se não forem acompanhadas, ladeadas de ações verdadeiras, não fisiológicas. Atualmente desenrola-se no STF, o julgamento do mensalão, julgamento-cena que apenas serve para tentar dar alguma satisfação social, para que não digam depois que não há justiça no Brasil. Ora, meu povo, já sabemos no que vai dar... Vai com ou sem azeite? E o senhor, gosta com azeitona verde ou preta? Porque demorou tanto para haver o julgamento? Para que o único crime realmente provável, que é o de Delúbio, tivesse tempo para caducar e depois dizerem categoricamente que fizemos a nossa parte, com toda a soberba e luxo das corte da terrinha brazilis. Quanto ao Corleone, o grande capo, este, como não tem prova cabal...
E assim vamos, aceitando este tipo de coisa. Dormindo “em paz”, enquanto nossas contas aumentam, nossa inadimplência aumenta e nossa oral diminui, na mesma proporção, é lógico. Para nos dar aumento, a chefona não tem dinheiro, para financiar seus projetos eleitoreiros ela usa o dinheiro público, pois perpetuar-se nos poder às custas do aumento de impostos e do sangue e suor do esfolado trabalhador brasileiro, que se lasca nos transportes públicos brasil a fora, que acorda cedo e chega tarde em casa, que não tem tempo para sua família, é muito fácil. Depois, quererão que o povo, mesmo assim, saiba o que significa dignidade. Vai chegar uma hora, chefa, que a indignidade será maior que seu antônimo, mesmo na terra do carnaval e futebol e nesta hora, o PT verá que a guerrilha urbana talvez não tenha morrido, como vocês acreditam, pois nos morros e favelas das cidades, onde a miséria clama por cidadania, ela infla e um dia, veremos que até o mais subserviente cidadão tem seu limite, qual balão. Boa morte a todos.

Xico Z.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

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A festa das importações

13 de junho de 2012 | 3h 05


Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo
Exportações empacadas, importações em alta, demissões na indústria e consumo bem maior que no ano passado: esses dados são oficiais, mas o governo parece ignorá-los e por isso insiste num diagnóstico falho e numa terapia errada para os problemas de crescimento da economia brasileira. A política federal continua dando prioridade ao consumo, como se a retração dos consumidores fosse o grande entrave à expansão do Produto Interno Bruto (PIB), agora estimada em 2,5% pelos analistas do setor financeiro e de consultorias e em 2,9% pelos economistas do Banco Mundial (Bird). Os dados apontam claramente problemas do lado da oferta, prejudicada por uma porção de ineficiências e custos absurdos. Ministros admitem esses problemas, ocasionalmente, e a presidente Dilma Rousseff, de vez em quando, menciona alguns componentes do custo Brasil, mas sem jamais formular uma estratégia coerente e suficientemente audaciosa para aumentar o potencial de crescimento do País.
Em março, o volume de vendas do comércio varejista foi 0,2% maior que o do mês anterior e 12,5% superior ao de um ano antes. No primeiro trimestre, o varejo vendeu 10,3% mais que no mesmo período de 2011. A expansão acumulada em 12 meses foi de 7,5%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a mesma fonte, o emprego industrial diminuiu 0,3% de março para abril. A comparação com abril do ano passado mostrou um recuo de 1,4%, sétimo resultado negativo nesse tipo de avaliação. Se o governo desse mais atenção ao descompasso entre a evolução do consumo e a do emprego industrial, talvez se dispusesse a rever seu diagnóstico. Mas esses dados parecem causar pouco efeito em Brasília. Curiosamente, a combinação desses números com os do comércio exterior também parece despertar pouco interesse entre os formuladores da política econômica. Mas o resultado dessa combinação parece bastante claro para justificar uma revisão da estratégia de crescimento seguida até agora.
Do início de janeiro até a segunda semana de junho, o Brasil exportou mercadorias no valor de US$ 102,9 bilhões e gastou US$ 96,9 bilhões com produtos importados. A receita comercial foi 0,4% menor que a de igual período de 2011, pela média dos dias úteis. Pelo mesmo critério, a despesa foi 5,3% maior e o superávit, 42,8% menor. Até o fim de maio a evolução havia sido um pouco menos ruim, com exportações 1,5% maiores que as de um ano antes e importações 4,4% superiores às dos primeiros cinco meses de 2011. Mas, no essencial, o cenário era o mesmo, com vendas externas estagnadas e compras em clara expansão.
Esse descompasso ajuda a entender o contraste entre a evolução do consumo no mercado interno e o desempenho da indústria. Os brasileiros continuam comprando e, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Associação Comercial de São Paulo, os consumidores se mostram mais confiantes do que em maio do ano passado. Para 51% dos entrevistados, a situação financeira atual é boa e para 59% deve melhorar. Um ano antes, essas avaliações haviam sido apresentadas por 47% e 51% das pessoas ouvidas pelos pesquisadores.
O otimismo dos entrevistados, dirão alguns, pode refletir um erro de avaliação. Talvez, mas eles continuam comprando e mostram disposição de ir novamente às lojas nos próximos meses, até porque a situação geral do emprego ainda é boa. Houve ganhos de renda nos últimos anos e há crédito suficiente. A indústria brasileira, no entanto, desfruta limitadamente dessa festa, enquanto os produtores estrangeiros ocupam fatias crescentes do mercado. Isso já foi mostrado em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre a participação crescente dos importados no consumo interno: 22%, nos quatro trimestres encerrados em março deste ano, recorde da série iniciada em 1996. O levantamento incluiu tanto produtos finais quanto insumos processados no Brasil.
A presidente Dilma Rousseff insiste em cuidar do crescimento da indústria com medidas protecionistas, políticas de preferência a componentes nacionais e pressões para redução de juros. Já fala menos sobre a valorização cambial, um de seus temas prediletos, por muito tempo, nos eventos internacionais.
Mas o governo faz muito pouco para cuidar dos custos e das ineficiências mais importantes, limitando-se à política de pequenos remendos. A presidente já deixou clara a disposição de promover apenas mudanças limitadas no sistema tributário. Uma reforma séria e penosamente negociada com os governadores continua fora da agenda. Também fora da pauta permanece um esforço mais sério para eliminar o atraso nos investimentos em infraestrutura. É mais fácil discursar e inflar os números com os financiamentos habitacionais.

Entederam porque o Basil não é um país sério? É só fisiologismo político, que favorece sempre os governantes e nunca o povo como um todo. Só ficam fabricando números e não fazem as reformas, dentre elas, a tributária, que deveria ter sido feita há muito, e de verdade; não adiada indefinidamente. Preferem aumentar impostos que é bem mais fácil... Para eles, claro.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Juros e furos... Do governo

                                          

Não é mais possível que o povo brasileiro arque com uma carga tributária abusiva, imoral e predatória. Será que nosso sangue é de barata? Ser pacífico não significa subserviência, como diria O Rappa: "A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz, paz sem voz, não é paz é medo". Um  dia tiraremos o traseiro da poltrona, sairemos de frente da televisão que aprisiona grande parte do povo com seus Big Brothers da vida, telenovelas, futebol e carnaval em excesso, sim, excesso; pois tudo em pequenas doses, faz bem, já que a diferença entre o veneno e o remédio é apenas a dosagem. Agora, todo dia a mesma coisa, duas, três vezes ao dia é veneno que entorpece e mata... Sem chance de recuperação. Estas taxas de tão extorsivas geram receitas absurdamente lucrativas para os bancos. A "presidenta" tem nos últimos dias enfrentado esta situação de forma corajosa, já que a política dos juros foi ignorada por seus antecessores.Obviamente não é que ela seja boazinha ou melhor que os outros e não vamos aqui nos alongar acerca de suas razões - que são muitas e de interesse partidário, acima de tudo, claro - mas o momento é favorável e a impulsiona nesta contoversa direção. Enfim, só para termos uma pequena amostra das relações embutidas nesta política, vejam estes números:  Com a atual redução nos juros da SELIC, o governo federal economizará 54 bilhões no pagamento dos juros da dívida, o dobro do valor aplicado em educação em 2011. Percebam, movam-se e nos aglutinemos politicamente, pois outra saída não há. 

Xico Z.